Vale a pena ler

Imagem: Getty Images.

Vi esse texto no Sanduíche de Algodão e achei tão interessante que resolvi dar um ctrl + c e ctrl + v:

Tenho uma bela amiga na Europa. Jovem, educada, elegante, poliglota, extrovertida, conhece muita gente bacana, é ultrabem informada, tem fôlego de leão e uma curiosidade infinita. Nos gostamos muito e por tudo isso ela é sempre – e não só para mim – uma interlocutora fascinante. Nosso encontro mais recente em Paris foi, como de costume, bastante caloroso. Estávamos com saudades e havia tempo que não nos víamos. Desandei a contar novidades. Uma verdadeira enxurrada de informações porque no afeto e na amizade sou prolixa. Mas logo notei que a sua atenção não estava comigo e percebi que o alheamento tinha endereço certo: o iPhone! Incrédula, acompanhei o olhar se esgueirando para o visor do aparelho. Repetidamente. Fim do glamour. Dias depois, em artigo genial e hilário na revista do jornal Le Figaro, Karl Lagerfeld fala justamente do assassinato da conversação e, em especial, da que era brilhante, com status de legítima arte, como a que existiu no passado e que por muitos foi considerada uma invenção francesa. As pessoas sabiam ser ao mesmo tempo graves e superficiais, sérias e divertidas. Esse convívio espirituoso baseado na réplica, no jogo de palavras e no conhecimento real e profundo tem, segundo ele, vários assassinos. O primeiro suspeito é exatamente o telefone celular e seus cúmplices – o Blackberry e o iPhone –, que têm hoje lugar cativo sobre as mesas ao lado de talheres e louças, ou balançando em equilíbrio precário sobre os joelhos dos convivas. Vítima anuente, o usuário se transforma em uma espécie de secretário ultra-atarefado, lendo e respondendo textos, além de dar a desagradável impressão de querer estar em outro lugar, com outras pessoas. O segundo presumível assassino da vivacidade dos colóquios contemporâneos, segundo Lagerfeld, é a proibição de fumar em lugares públicos. Ele afirma que essa “funesta e sadia” proibição esvazia as mesas dos jantares de maneira inadmissível. Narra que uma mesa de 12 lugares pode se reduzir a quatro convivas espalhados, de olhar perdido, durante intermináveis momentos. Essa falta de disciplina, ele assegura, é o cúmulo da falta de educação. A pobre e desafortunada educação que sofreu a mesma (má) sorte e decadência da conversação. O terceiro cúmplice da morte da interlocução social brilhante, ainda segundo Lagerfeld, é o “politicamente correto”, assunto que ele considera o causador da morte instantânea de toda e qualquer troca de ideias cultas e inteligentes. Seja politicamente correto no comportamento, mas deixe o discurso para lá, a menos que esteja em algum seminário. Socialmente, seja bem-humorado e dê asas à imaginação. Viva a liberdade, enfim. Quanto à minha amizade europeia, ela continua, felizmente. O mistério da – temporária – desatenção da moça comigo foi solucionado: ela vivia aguda e palpitante crise sentimental, daquelas que provocam grandes expectativas só de olhar para o telefone.

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